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Com dados alarmantes como o de que três crianças são abusadas a cada hora no Brasil, a campanha Maio Laranja intensifica neste mês as ações de conscientização e combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Instituída pela Lei Federal nº 14.432/2022, a mobilização nacional busca alertar a sociedade sobre a gravidade do problema e a importância da prevenção e da denúncia.
Dados do Instituto Liberta revelam que 51% das vítimas têm entre 1 e 5 anos e que, anualmente, 500 mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no país. Estima-se que apenas 7,5% dos casos cheguem a ser denunciados às autoridades, indicando uma subnotificação gigantesca e a dimensão oculta do problema.
Abusador conhecido e abuso disfarçado de afeto

Nesta segunda-feira (5), o psicólogo clínico Abel Peter, em entrevista ao Atualidades, destacou pontos cruciais sobre o tema. "Na grande maioria dos casos, mais de 90%, o abusador é uma pessoa conhecida da vítima: pai, avô, padrasto, tio, amigo da família. Não é o estranho no carro escuro", alertou.
Peter ressaltou que o abuso nem sempre envolve violência física explícita ou deixa marcas visíveis. "Às vezes ele vem disfarçado de afeto, de carinho, com toques sutis. O abusador pode ser inteligente e manipular a vítima sem deixar marcas físicas evidentes", explicou, citando exemplos de como a percepção infantil pode ser explorada.
Impacto e dificuldade da denúncia
As consequências para a vítima são devastadoras e, muitas vezes, irreversíveis, afetando a saúde mental, as relações sociais e a autoestima por toda a vida, podendo levar a quadros de isolamento, culpa e até ideação suicida. A dificuldade em denunciar, segundo o psicólogo, está frequentemente ligada ao fato do agressor ser do círculo íntimo, gerando medo, dependência financeira e um complexo conflito emocional na vítima e na família. "Por que não vem [a denúncia]? Por conta desses fatores", pontuou Peter.
Sinais de Alerta e Como Agir
O psicólogo orienta pais e responsáveis a ficarem atentos a mudanças de comportamento na criança ou adolescente:
- Isolamento social, tristeza, medo excessivo;
- Irritabilidade, agressividade;
- Alterações no sono (insônia, pesadelos, terror noturno);
- Problemas psicossomáticos sem causa médica aparente (vômitos, diarreias, dores);
- Regressão de comportamento (voltar a fazer xixi na cama, por exemplo);
- Hipersexualização precoce (comportamentos ou falas sexualizadas inadequadas para a idade).
A fala espontânea da criança sobre algo que aconteceu é um sinal claro e nunca deve ser ignorada.
"Ao ouvir um relato, não faça perguntas direcionadas ou investigue por conta própria, pois isso pode retraumatizar a criança ou induzir respostas. Acolha a vítima e procure imediatamente os órgãos competentes", aconselha Abel Peter.
Onde Denunciar?
A denúncia deve ser feita ao Conselho Tutelar, à escola (que acionará os órgãos responsáveis) ou diretamente à Polícia Civil. Estes órgãos são preparados para conduzir a investigação de forma adequada, garantindo a proteção da vítima. Denunciar é fundamental para interromper o ciclo de violência.
O especialista também mencionou que o desejo sexual por crianças é um transtorno (parafilia) que possui tratamento, e que a busca por ajuda antes da ocorrência do crime é essencial, embora dificultada pelo estigma social. O ato consumado, no entanto, é crime e deve ser tratado como tal pela Justiça.